quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Deixe a Raiva Secar... (autor desconhecido)







Mariana ficou toda feliz porque ganhou de presente um joguinho de chá, todo azulzinho, com bolinhas amarelas.
No dia seguinte, Júlia sua amiguinha, veio bem cedo convidá-la para brincar.
Mariana não podia, pois iria sair com sua mãe naquela manhã.
Júlia então, pediu a coleguinha que lhe emprestasse o seu conjuntinho de chá para que ela pudesse brincar sozinha na garagem do prédio.
Mariana não queria emprestar, mas, com a insistência da amiga, resolveu ceder, fazendo questão de demonstrar todo o seu ciúme por aquele brinquedo tão especial.
Ao regressar do passeio, Mariana ficou chocada ao ver o seu conjuntinho de chá jogado no chão.
Faltavam algumas xícaras e a bandejinha estava toda quebrada.
Chorando e muito nervosa, Mariana desabafou:
"Está vendo, mamãe, o que a Júlia fez comigo?
Emprestei o meu brinquedo, ela estragou tudo e ainda deixou jogado no chão.
Totalmente descontrolada, Mariana queria, porque queria, ir ao apartamento de Júlia pedir explicações.
Mas a mãe, com muito carinho ponderou:
"Filhinha, lembra daquele dia quando você saiu com seu vestido novo todo branquinho e um carro, passando, jogou lama em sua roupa?
Ao chegar em casa você queria lavar imediatamente aquela sujeira, mas a vovó não deixou.
Você lembra o que a vovó falou?
Ela falou que era para deixar o barro secar primeiro. Depois ficava mais fácil limpar.
Pois é, minha filha, com a raiva é a mesma coisa.
Deixa a raiva secar primeiro..
Depois fica bem mais fácil resolver tudo.
Mariana não entendeu muito bem, mas resolveu seguir o conselho da mãe e foi para a sala ver televisão.
Logo depois alguém tocou a campainha..
Era Júlia, toda sem graça, com um embrulho na mão.
Sem que houvesse tempo para qualquer pergunta, ela foi falando:
"Mariana, sabe aquele menino mau da outra rua que fica correndo atrás da gente?
Ele veio querendo brincar comigo e eu não deixei.
Aí ele ficou bravo e estragou o brinquedo que você havia me emprestado.
Quando eu contei para a mamãe ela ficou preocupada e foi correndo comprar outro brinquedo igualzinho para você.
Espero que você não fique com raiva de mim.
Não foi minha culpa."
"Não tem problema, disse Mariana, minha raiva já secou."
E dando um forte abraço em sua amiga, tomou-a pela mão e levou-a para o quarto para contar a história do vestido novo que havia sujado de barro.
Nunca tome qualquer atitude com raiva.
A raiva nos cega e impede que vejamos as coisas como elas realmente são.
Assim você evitará cometer injustiças e ganhará o respeito dos demais pela sua posição ponderada e correta.
Diante de uma situação difícil. Lembre-se sempre: Deixe a raiva secar.

Qual a IMPORTÂNCIA da AMIZADE?


Desde os tempos bíblicos a amizade foi tida como algo precioso. Ela é enaltecida no livro do Eclesiastes, sendo comparada a um tesouro.


Para todos aqueles que desfrutam de boas amizades, não é novidade afirmar que é ótimo estar com os amigos.

Agora, no entanto, provas científicas sólidas afirmam que a amizade é capaz de prolongar a vida.

Shelley Taylor, psicóloga pesquisadora da Universidade da Califórnia, em Los Ângeles, diz que a amizade “desempenha um papel muito mais importante na manutenção da saúde e da longevidade do que a maioria das pessoas imagina.”

Diz que os “laços sociais são o remédio mais em conta que existe.”

Desde 1979 vêm se intensificando pesquisas em torno da ação da amizade. Ainda na Califórnia, durante nove anos, cinco mil moradores do Condado de Alameda foram submetidos a pesquisas.

Foi constatado que as pessoas que tinham o maior número de relações sociais apresentaram menos da metade da probabilidade de morrer, comparados aos que tinham o menor número de relacionamentos.

Mais de uma centena de estudos confirma os benefícios que a amizade traz para a saúde.

Quem tem amigos, tem mais chances de sobreviver às doenças de alto risco, possui um sistema imunológico mais forte e com maior capacidade de regeneração, melhora sua saúde mental e vive mais do que as pessoas sem esse suporte social.

Segundo os pesquisadores, o fato de ter amigos confiáveis significa menos hormônios de estresse fluindo pelo organismo, mesmo diante de problemas. É menor o risco de a pressão arterial e os batimentos cardíacos aumentarem de modo brusco.

Este importante detalhe ajuda a prevenir danos arteriais. Ao longo de toda uma vida, essas diferenças sutis podem resultar numa grande proteção contra as agressões do tempo e das doenças.

Pesquisas em vários Estados americanos, no Japão e na Escandinávia são unânimes em afirmar que é ótimo ter amigos.

Por isso, mesmo que a sua agenda esteja superlotada, não esqueça de dedicar um pouco de atenção para o florescimento e a manutenção das suas amizades.

Marque um encontro para um lanche. Ou uma caminhada pela manhã, antes de ir para o trabalho.

Reserve uma noite, ao menos, por mês para se encontrar com os amigos.

Esteja presente nos acontecimentos importantes na vida de seus amigos, como casamentos, formaturas, aniversários, enterros. Acredite: sua presença vai fazer a diferença.

Programe-se para realizar algumas tarefas de rotina, com os amigos, aproveitando os tempinhos sempre preciosos, enquanto faz compras no mercado, vai ao banco, pratica exercícios, assiste o jogo de futebol de seu filho.

O importante é não perder contato. Se o amigo está distante, telefone, utilize o fax, o correio eletrônico. Faça o que puder para manter o relacionamento de amizade.

Na alegria ou na tristeza, esteja com seus amigos.

* * *
Amizade é excelente presença de Deus no relacionamento das almas.

Apóie-se nas companhias caras ao seu coração. Deixe-se envolver pelo bem-querer.

Cultive a amizade, permitindo-se o salutar intercâmbio de idéias, sentimentos, alegrias.

Alimente a sua vida com essas horas de agradável convívio ao lado de quem você quer bem e se permita usufruir felicidade.

Você já parou para pensar sobre o valor da amizade?

Às vezes nos encontramos preocupados, ansiosos,

em volta há situações complicadas, nos sentindo meio que perdidos, mas somente o fato de conversarmos com um amigo, desabafando o que nos está no íntimo, já nos sentimos melhor, mesmo que as coisas permaneçam inalteradas.

Quantas vezes são os amigos que nos fazem sorrir quando tínhamos vontade de chorar, mas a sua simples presença traz de volta o sol a brilhar em nossa vida.

A simplicidade das brincadeiras pueris, da conversa informal,momentos de descontração que muitas vezes pode ser numa conversa rápida ao telefone, no vai e vem do dia ou da noite,no ambiente de trabalho ou de escola, enfim, em qualquer lugar a qualquer hora.

Entretanto, não existe só alegria, amor, felicidade nesta relação que como em qualquer outro relacionamento,passa por crises passageiras, por momentos intempestivos, abalos ocasionais.

Ainda que tenhamos muito carinho pelo amigo em questão,às vezes por insegurança, por ciúme, por estarmos emocionalmente alterados ou nos sentindo pressionados,acabamos sendo injustos com ele e isso pode ser recíproco.

Podemos comparar esse elo de amizade ao tempo que passa por alterações climáticas constantemente, mas é dessa forma que aprendemos a nos conhecer, compartilhar momentos, que se desenvolve uma amizade.

Diante do amigo somos nós mesmos, deixamos vir à tona nossos pensamentos a respeito das coisas, da vida, nos mostramos como verdadeiramente somos.

Há amigos que nos ensinam muito, nos fazem enxergar situações que às vezes não percebemos o seu real sentido,compartilham a sua experiência conosco, nos falam usando da verdade que buscamos encontrar.

São eles também que nos chamam a razão, chamando a nossa atenção quando agimos de modo contraditório, que nos dizem coisas que não queremos ouvir, aceitar, compreender.

Ao longo de nossa vida muitos amigos passam por ela e nos deixam saudade, mas também deixam a recordação de tudo que foi vivido.

É na amizade verdadeira que encontramos sinceridade, lealdade, afinidade, cumplicidade, simplicidade, fraternidade.

Amigos são irmãos que a vida nos deu para caminhar conosco ao longo da nossa jornada espiritual, extrapolando os limites do tempo, continuando quando e onde Deus assim o permitir."

Bella Burgos

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ambição vs Ganância

(autor desconhecido)

A ambição é uma das molas mestras do sucesso. Ter ambição é querer ardentemente; é colocar a mente e a vontade focadas num objectivo e tudo fazer para que ele se concretize.

A ambição sem medida pode ser negativa. Mas a ambição dentro dos limites da ética é altamente positiva. Uma pessoa sem ambição não terá sucesso, pois não encontrará os motivos para lutar e vencer.

A ganância é totalmente negativa. A ganância é um dos maiores factores de fracasso na vida pessoal e profissional.

A pessoa gananciosa não vê limites para ganhar o que deseja. Ela não tem nenhuma ética, nenhuma consideração de respeito às demais pessoas.

Para o ganancioso, os fins justificam os meios. Vemos, com tristeza, pessoas e empresas que ultrapassam os limites da ambição passando rapidamente para a ganância.

Mas a ganância é um monstro insaciável: quanto mais a alimentamos, mais fome tem. E tem um poderoso efeito destrutivo das relações humanas, da verdade e do clima nos locais de trabalho. A ganância, uma vez à rédea solta, aniquila o carácter das pessoas e destrói todas as qualidades humanas.

A História da Humanidade prova que a ganância do homem não é um exclusivo do capitalismo:

Para Karl Marx (1818-1883), filósofo e revolucionário alemão, o materialismo histórico conduz à visão de que com a alteração da base económica da sociedade, também se altera a consciência, pelo que, a ganância, o egoísmo e a cobiça não constituem uma fatalidade de carácter da natureza humana. Estas características seriam eliminadas pela colectivização da propriedade e dos meios de produção privados. Para a concepção dessa sociedade, Marx foi também influenciado por Tomas More, através da sua obra “Utopia”.

Recentemente, foi afirmado por Francisco Louçã, na intervenção de encerramento da VI Convenção Nacional do Bloco de Esquerda, que a ganância é o "nome próprio do capitalismo". Todavia, não acrescentou que também o foi nas sociedades com modelos sociais e de produção esclavagista, feudal e comunista. Em termos filosóficos, sociológicos e religiosos, o conceito da ganância é abordado há milénios. Não constitui uma novidade para a Humanidade. A História das Ideologias ilustra esta questão com grandes referências do pensamento humano e religioso.

Bastará relembrar algumas para contrariar a tese da atribuição da ganância à exclusividade do capitalismo.

Na fase histórica do esclavagismo, e no período antes de Cristo, podemos recordar Platão (427-347, a.C.) – o primeiro pedagogo, por ter concebido um sistema de educação para a época, integrado numa dimensão ética e política.
Platão acreditava que, por meio do conhecimento, seria possível controlar os instintos, a ganância e a violência. O acesso aos valores da civilização funcionaria como antídoto para as maldades cometidas pelos seres humanos contra seus semelhantes.

“Como pode uma sociedade ser salva, ou ser forte, se não tiver à frente seus homens mais sábios?”, escreveu Platão.

No Novo Testamento, os textos da doutrina de Cristo abordam o homem rico e a sua atitude para com as riquezas: “acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui”, Lucas (12;15); “ é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus”, Mateus (19;24).

Seis séculos mais tarde, Maomé (570-632) transmitiu aos seus seguidores um rígido código moral e ético, com determinadas alertas e proibições, entre as quais se destacam a ganância e desonestidade nos negócios, os jogos de azar. “A concórdia é o melhor, apesar de o ser humano, ser propenso à ganância” (Corão)

No século XVI, Thomas More (1478-1535), homem de estado, diplomata, escritor, advogado e homem de leis, foi autor da obra “Utopia”, inspirada no livro “República” de Platão. Para ele o bem individual é subjugado ao bem geral, considerando que através dos tempos “torceram o evangelho como se fosse uma lei de chumbo, para modelá-lo segundo os maus costumes dos homens”. Condenou a vida de luxos em cima do trabalho de outros. Thomas More chegou ao cargo de Chanceler de Inglaterra. Mas, os conflitos com Henrique VIII e Ana Bolena levaram-no à prisão perpétua e depois à morte por crime de alta traição. Foi reconhecido como mártir e declarado beato pelo Papa Leão XIII, em 1886, e “Patrono dos Estadistas e Políticos”, pelo Papa João Paulo II, no ano 2000.

Voltando à ganância, vale a pena citar, demoradamente, Max Weber, na "Introdução" à "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo": "Instinto do lucro, sede de ganho, de dinheiro, do maior ganho monetário possível, não têm absolutamente nada a ver com o capitalismo.”

Infelizmente todos conhecemos Gananciosos que querem passar por Capitalistas…

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A ARTE DE VIVER JUNTOS

A ARTE DE VIVER JUNTOS
Roberto T. Shinyashiki

Muitas pessoas formam um casal pensando que vão iniciar uma grande brincadeira cujo objetivo maior é o prazer. A experiência mostra que eles que pensam apenas no gozo são os que mais sofrem numa relação. Depois de algum tempo, vêm as insatisfações, as frustrações, as cobranças, a rotina e o tédio. A pessoa se sente como um peixe no anzol: tentou comer a minhoca e acabou virando comida de pescador!

Quando duas pessoas desejam se unir, devem criar um espaço no qual possam desenvolver a capacidade de viver a dois, buscar soluções criativas à medida que os obstáculos aparecem e aprendem a desfrutar todas as formas de viver com amor.

Após a grande libertação sexual dos anos 60 e 70, ficou fácil para as pessoas se encontrar e ter relacionamentos ocasionais, em que aliviam as tensões, conhecem gente diferente e gozam de momentos agradáveis. Mas, ao mesmo tempo, cada vez mais, elas sofrem com a "ressaca sexual" - aquela sensação de vazio, culpa e insatisfação que acompanha tais relacionamentos. A pessoa acorda de manhã e se pergunta: "Meu Deus, o que estou fazendo nesta cama, ao lado desta pessoa:" Já dizia um poeta: "Deitei ao lado de um corpo e acordei à beira de um abismo..."

A ressaca sexual aparece toda vez que se comete uma agressão íntima contra si mesmo e, sem dúvida, é um aviso de que precisa ser mais cuidadoso. No passado, muitas pessoas experimentavam a "ressaca moral" por ter transgredido uma regra aprendida na infância, como a norma de que se deve ser fiel ao esposo ou praticar sexo apenas depois do casamento. Mas hoje o que nos chama a atenção é a ressaca sexual, cada vez mais experimentada por mulheres e homens que tiveram um grande número de relações superficiais e passageiras.

Passada a euforia da "liberação sexual", as pessoas estão sentindo falta de relações profundas e sólidas!

Estar com alguém plenamente é um caminho de crescimento, um aprendizado de viver a dois; é a possibilidade de vencer o medo da entrega e de se conhecer no mais íntimo.

Conviver com alguém que amamos é o mesmo que comprar um imenso espelho da alma, no qual cada um dos nossos movimentos é mostrado sem a mínima piedade. Ao mesmo tempo que conhecemos melhor o outro, entramos em contato com nossas inseguranças também. E aí começa o inferno... Em vez de encarar a verdade e de ver a imagem temida do verdadeiro eu, tenta-se quebrar o espelho.

Como é possível quebrar esse espelho? Há muitas formas, porém as mais freqüentes são: fugir da intimidade, culpar o outro, não assumir as próprias responsabilidades na relação desacreditar o amor.

Viver com alguém que se uma oportunidade de conhecer o outro, mas também a maior chance de entrar em contato consigo mesmo. Apenas quando conseguimos nos enxergar por inteiro é que percebemos o medo de nós mesmos e nos damos conta de que precisamos evoluir para nos tornar pessoas menores. Começamos, então, a nos capacitar para o amor.

Um dia, perguntaram a um grande mestre quem o havia ajudado a atingir a iluminação, e ele respondeu: "Um cachorro".

Os discípulos, surpresos, quiseram saber o que havia acontecido, e o mestre contou: "Certa vez, eu estava olhando um cachorro, que parecia sedento e se dirigia a uma poça d'água. Quando ele foi beber, viu sua imagem refletida. O cachorro, então, fez uma cara de assustado, e a imagem o imitou. Ele fez cara de bravo, e a imagem o arremedou. Então, ele fugiu de medo e ficou observando, distante, durante longo tempo, a água. Quando a sede aumentou, ele voltou, repetiu todo o ritual e fugiu novamente. Num dado momento, a sede era tanta que o cachorro não resistiu e correu em direção à água, atirou-se nela e saciou sua sede. Desde esse dia, percebi que, sempre que eu me aproximava de alguém, via minha imagem refletida, fazia cara de bravo e fugia assustado. E ficava, de longe, sonhando com esse relacionamento que eu queria para mim. Esse cachorro me ensinou que eu precisava entrar em contato com a minha sede e mergulhar no amor, sem me assustar com as imagens que eu ficava projetando nos outro".

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

EU TE AMO... NÃO DIZ TUDO!


Você sabe que é amado(a) porque lhe disseram isso?

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e palavras.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida,

Que zela pela sua felicidade,
Que se preocupa quando as coisas não estão dando certo,

Que se coloca a postos para ouvir suas dúvidas,
E que dá uma sacudida em você quando for preciso.

Ser amado é ver que ele(a) lembra de coisas que você contou dois anos atrás,

É ver como ele(a) fica triste quando você está triste,
E como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d'água.

Sente-se amado aquele que não vê transformada a mágoa em munição na hora da discussão.

Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro.
Aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido.

Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é,
Sem inventar um personagem para a relação,
Pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.

Sente-se amado quem não ofega, mas suspira;
Quem não levanta a voz, mas fala;
Quem não concorda, mas escuta.

Agora, sente-se e escute: Eu te amo não diz tudo!
Arnaldo Jabor

Eu, Orgulhoso?

Carlos Pereira

Paulo de Tarso, em uma de suas epístolas ao povo de Corinto, expressa que atualmente nos vemos como por um espelho, parcialmente, mas que haveríamos de nos conhecer como verdadeiramente somos. Fazia alusão, certamente, ao nosso autodescobrimento como seres divinos e, como tais, seres espirituais e imortais. Neste instante, em que nos defrontaremos com a nossa verdadeira realidade, haveremos de nos identificarmos sem o véu da ilusão que as aparências do mundo físico proporciona aos sentidos e suas conseqüências naturais. Esta descoberta facilita o não desenvolvimento de sentimentos egoísticos e permite nos enxergarmos sem os adereços personalísticos que maioria de nós cria e cultiva, isto é, sem a supervalorização do eu.


Este império do eu se reflete na maioria dos comportamentos de orgulho que se caracteriza por uma paixão crônica por si mesmo. Este "amor" próprio se revela, porém, em muitas faces. O melindre é o orgulho na mágoa. A pretensão é o orgulho nas aspirações. A presunção é o orgulho no saber. O preconceito é o orgulho nas concepções. A indiferença é o orgulho na sensibilidade. O desprezo é o orgulho no entendimento. A vaidade é o orgulho do que se imagina ser. A inveja é o orgulho perante as vitórias alheias. A falsa modéstia é o orgulho da "humildade artificial". A prepotência é o orgulho de poder. A dissimulação é o orgulho nas aparências. Analisando nesta amplitude conceitual é muito difícil não constatar o quão orgulhosos somos. Ainda assim, muitas pessoas não conseguem realizar este autodiagnóstico, afirmando "orgulhoso eu?".

Dois pesquisadores do comportamento humano, Joseph Luft e Harry Ingham, lançaram, há mais de quarenta anos, um modelo de compreensão da percepção das atitudes humanas que ficou conhecido como a Janela de Johari e que pode facilitar na identificação do orgulho humano. Trata-se de uma interseção das percepções daquilo que é conhecido ou não pelos outros com aquilo que é conhecido ou não pela própria pessoa. Estas interseções provocam o aparecimento de quatro áreas de conhecimento/percepção do indivíduo: (1) O eu aberto, que representa o nosso comportamento manifesto, conhecido por nós e pelos outros; (2) o eu cego, que representa nosso comportamento que é facilmente percebido pelos outros, mas do qual não temos consciência; (3) o eu secreto, que abrange as coisas que conhecemos sobre nós, mas escondemos dos outros, variando desde aspectos insignificantes até os mais importantes e (4) o eu desconhecido, que se refere às coisas que desconhecemos sobre nós, as quais os outros também não têm acesso, como, por exemplo, potencialidades escondidas e traços de personalidade ainda inconscientes. O orgulho pode estar localizado em qualquer uma destas áreas, mas comumente pode ser encontrado no eu cego, onde os outros percebem, mas não conseguimos enxergar.

Há diversos ângulos de estudo do orgulho, uma vez que sua manifestação é variada. O orgulhoso, por exemplo, é alguém que se compara o tempo inteiro aos outros. Compara-se para elevar-se sobre os demais. Por conseqüência, possui uma excessiva preocupação com a opinião do outro sobre si que se transforma numa espécie de neurose. Está sempre diminuindo o valor dos esforços alheios e, desta forma, é alguém que atrai antipatia e indiferença. O orgulhoso, achando-se "o rei da cocada preta" - numa expressão bem nordestina - valoriza o que não é, mas desejaria ser, o que o leva a pensar e a sentir que tudo que faz ou tem é melhor do que o do outro. Aí é que ele se aprisiona nas teias da ilusão, pois cria seu mundinho à parte e dá a ele vida intensa.

O personalismo, que talvez seja a forma mais concreta de identificação do orgulho, pode ser encontrado em comportamentos como a irredutibilidade velada ou clara; vaidade intelectual, dificuldade de conviver pacificamente com a diversidade humana; manipulação interpretativa de conceitos; autoritarismo nas decisões; boicote na cooperação a projetos que partam de outras cabeças; agastamento ante as cobranças e correções; sistemática competição para produzir além dos outros e da capacidade pessoal; coleção de animosidades; superlativa fixação dos valores que possui; pretensões de destaque; vício de ser elogiado e apego às próprias obras, até porque "Narciso acha feio o que não é espelho". O personalista é alguém que não sabe dialogar, não sabe dividir, não sabe trocar, não sabe ouvir. Eis o grande desafio a ser vencido pelo orgulhoso.

A antítese para vencer o orgulho é procurar ser humilde. Esta palavra sabiamente expressa o sentido que se busca na superação do orgulho. A sua etimologia é a mesma das palavras humano e húmus, por exemplo, e das expressões inglesas análogas humble (humilde) e humility (humildade). A raiz latina hum significa aquilo que vem da terra. Assim, humilhar originalmente quer dizer aquele que numa luta colocava o outro no chão. Humildade, bem apropriado, é aquele que mantém os pés no chão.

Ser humilde é aquele que tem consciência do que é, nem mais nem menos. É aquele que reconhece os seus limites e suas qualidades. É aquele que está em sintonia com a realidade, com a verdade. É aquele que está apto a ouvir o outro, viver em harmonia com o outro.

Algumas posturas de humildade podem e devem ser exercitadas como emitir opiniões sem fixar-se obstinadamente na idéia de serem as melhores; aprender a discernir os limites entre convicção e irredutibilidade nos pontos de vista; ouvir a discordância alheia acerca de nossas ações sem sentimento de perda ou melindre; cultivar abnegação na apresentação dos projetos nascidos no esforço pessoal, expondo-os para análise grupal; evitar difundir excessivamente o que já fez; disciplinar e enobrecer o hábito de fazer comparações; acreditar que a colaboração pessoal sempre poderá ser aperfeiçoada; pedir desculpas quando errar; ter metas sem agigantá-las na sua importância frente às incertezas do futuro; admitir para si sentimentos de mágoa e inveja; ser simples; ter como única expectativa nas participações individuais o desejo de aprender e ser útil e delegar tarefas, mesmo que acredite que outro não dará conta de fazê-la tão bem quanto você.

O mundo materialista e capitalista em que vivemos, sem dúvida, é um grande alimentador do orgulho pessoal, o que torna mais difícil superá-lo, pois somos estimulados constantemente pelos holofotes da vaidade, pela luta competitiva do dia-a-dia e pela valorização das aparências. Jesus, a maior celebridade de todos os tempos, era, acima de tudo, humilde. Sendo quem era poderia reivindicar outro tratamento, querer ser "paparicado" ou exigir que todos o reverenciassem pela sua posição superior. Em vez disso, deu lições contínuas de humildade, tanto que ensinou que "o Reino de Deus não vem com a aparência exterior", que "aquele que se exaltar seria humilhado" e que "os últimos seriam os primeiros".

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O ÚLTIMO SERMÃO DE BUDA

Aos 80 anos de idade, Buda pressentiu que morreria de intoxicação, após ingerir um alimento estragado. Com o auxílio de fiéis discípulos, viajou até Kushinagara, deitando-se sob uma árvore no bosque local, onde então Buda fez seu último discurso:

Ó discípulos; Após a minha morte, deveis vos guiar pelos Preceitos. Eles devem ser como a Luz no meio das trevas, como um tesouro encontrado por um pobre. Isso porque os Preceitos são vosso mestre. Guiar-se por eles é o mesmo que se guiar por mim.

Vós que guardais os Preceitos disciplinai vosso corpo, tomai as refeições nas horas certas, vivei em estado de pureza. Não tomeis parte nos negócios mundanos, não recorrais a fórmulas mágicas, não fabriqueis elixires miraculosos, não vos aproximeis de nobres e não tomeis atitudes para com outrem condicionadas por sua riqueza ou pobreza.

Guardai uma mente correta, tende pensamentos corretos e sede comedidos. Não recorrais a prodígios para seduzir as pessoas. Quando receberdes presentes, observai sempre o comedimento.

Os Preceitos são a fonte de libertação. Dos Preceitos saem os diversos estados de meditação e a sabedoria que leva à cessação do sofrimento.

Por isso, ó monges, guardai os Preceitos e esforçai-vos por jamais os violar. Se conseguirdes guardá-los bem, disso resultará a Boa Lei. Se não conseguirdes guardá-los bem, não aparecerão os méritos decorrentes da prática das boas ações. Por isso, deveis compreender que nos Preceitos está a Suprema Tranqüilidade e o Supremo Mérito.

Ó monges, vós permaneceis na prática dos Preceitos. Por isso, devem disciplinar seus cinco sentidos, jamais permitindo o surgimento dos cinco desejos (desejo de se alimentar, de dormir, desejo sexual, desejo de obter fortuna e desejo de conseguir honrarias e fama).

Assim como um pastor domina o rebanho com seu cajado, não permitindo que os animais invadam as plantações, deveis guardar a máxima vigilância. Abandonar os cinco sentidos ao sabor de seus caprichos é como deixar um cavalo indômito sem rédeas. Tal cavalo arrasta as pessoas e as derruba dentro de buracos. O prejuízo causado por um cavalo indômito atinge apenas o presente, mas o causado pelos cinco sentidos atinge inclusive o futuro. Por isso deveis evitá-lo. O sábio vigia seus cinco sentidos como a um ladrão. Jamais se descuida deles. Mesmo que se descuide por um instante, logo readquire o controle.

A mente é senhora dos cincos sentidos. Por isso, deveis disciplinar vossa mente. A mente é mais perigosa que uma cobra venenosa, uma fera ou um salteador. É como uma pessoa que, entretida com o mel que transporta em suas mãos, não enxerga um buraco e cai nele. Se deixardes vossa mente entregue a si mesma, perdereis as boas coisas. Se a vigiardes, tudo correrá bem. Por isso, ó monges, deveis vos esforçar e dominar a vossa mente.

Ó monges, deveis tomar vossas refeições como se elas fossem remédios. Quer quando comeis coisas deliciosas, quer quando comeis coisas desagradáveis, jamais deveis sair da proporção certa. Comei o suficiente para vos manterdes.

Recebendo dádivas alheias, tomai apenas um mínimo para eliminar vossas dificuldades. Não desejais demasiado, a fim de não romper a boa disposição de vossas mentes.

Ó monges, ainda que alguém vos fira, sedes pacientes, não tenham cólera nem ódio. Guarde vossa boca para não proferir palavras ferinas. Abandonar a cólera ao sabor dos caprichos prejudica o trilhamento do Caminho e destrói os méritos. Imensa é a virtude da paciência, muito superior à da observância dos Preceitos. Aquele que bem pratica a paciência merece ser chamado de forte, aquele que se alegra com os venenos do cavalo indômito e não sabe praticar a paciência como quem bebe néctar, não pode ser considerado um detentor da Sabedoria dos Praticantes do Caminho.

Os prejuízos causados pela cólera destroem as boas leis. São prejuízos maiores que os causados por um incêndio devastador. Nem os ladrões que nos roubam os méritos são tão terríveis como a cólera. Os próprios leigos devem se abster da cólera. Com muito mais razão, portanto, os monges, aqueles que não têm desejos, deverão se abster da cólera.

Ó monges, quando em vós se manifestar o orgulho, este deverá ser imediatamente extirpado. Nem sequer os fiéis leigos deverão deixar que o orgulho se desenvolva. Com muito mais razão, portanto, os monges, aqueles que encontraram no Caminho, que se humilham e andam pedindo esmolas para obter a libertação, deverão se abster do orgulho.

Ó monges, a lisonja está fora do Caminho, por isso deveis ser sempre sinceros.

Ó monges, aquele que tem muitos desejos busca muitas vantagens e, por isso, tem muitos sofrimentos. Aquele que tem poucos desejos nada busca e, por isso, não tem preocupações. Por esse motivo, aquele que tem poucos desejos atinge o Nirvana.

Ó monges, se desejais a libertação do sofrimento, deveis aprender a vos contentardes com o razoável. Aquele que sabe se contentar com o razoável se sente bem, mesmo que tenha de se deitar sobre a terra. Entretanto, aquele que não sabe se contentar com o razoável, mesmo nos mundos celestes permanecerá insatisfeito, por isso aquele que sabe se contentar com o razoável é rico, mesmo sendo pobre, ao passo que aquele que não sabe se contentar com o razoável é pobre, mesmo sendo rico.

Ó monges, se quiserdes procurar a calma, o desprendimento e a paz, deveis abandonar os lugares cheios de gente e viver isolados.

Ó monges, se vos esforçardes, nada será difícil. Por isso, deveis esforçar-vos. Mesmo uma pequena correnteza d'água acaba gastando uma rocha.

Ó monges, se desejais a sabedoria e a boa ajuda, deveis ter uma intenção inquebrantável, pois ela afasta as paixões e ilusões. Por isso, deveis manter inquebrantáveis as vossas intenções. Caso fraquejardes em vossas intenções, perdereis vossos méritos. Aquele que tem intenções firmes não é prejudicado, mesmo estando no meio desses salteadores que são os desejos. É como um guerreiro coberto por uma armadura, que nada tem a temer no campo de batalha.

Ó monges, todo aquele que tem uma intenção firme conserva sua mente em estado de concentração. Por isso, ele sabe os Dharmas do nascimento e da dissolução do mundo. Por isso, deveis vos esforçar e praticar as diversas concentrações. Aquele que consegue praticar a concentração não tem uma mente dispersiva. É como aquele que economiza água e guarda com cuidado. O praticante exercita-se na concentração a fim de bem guardar a água da sabedoria.

Ó monges, se tiverdes a sabedoria, não tereis apego. Examinai bem todas as coisas. Dentro da minha Lei, obtereis a Libertação. Quem não tiver a Sabedoria, não poderá ser considerado um realizador do Caminho, nem mesmo um fiel leigo. A Sabedoria é um navio seguro para a travessia do oceano da velhice, da doença e da morte. É uma luz no meio das trevas, é um elixir que cura todas as doenças, é um machado que corta as árvores das paixões. Por isso, deveis vos esforçar para a obtenção do desenvolvimento da Sabedoria.

Ó monges, deveis evitar as estéreis discussões teóricas, pois elas só trazem perturbações à mente. Mesmo os monges não lograrão alcançar a libertação, se se entregarem a elas. Por isso, deveis evitar as estéreis discussões teóricas. Caso desejais alcançar as alegrias do Nirvana, deveis afastar as estéreis discussões teóricas.

Ó monges, deveis vos afastar de toda negligência, como aquele que se afasta dos salteadores. Eu ensino a Lei como o médico que reconhece a doença e recomenda um remédio. O fato de o doente tomar ou deixar de tomar o remédio já não depende do médico. Também sou como aquele que ensina um caminho às pessoas. Se houver pessoas que, embora ouvindo os ensinamentos, não seguirem o caminho, a culpa não é daquele que o ensinou.

Ó monges, não vos entristeçais. Ainda que permanecesse no mundo durante milhares de anos, isso não me livraria da morte. Nada do que se reúne escapa à separação. Já foram ensinados todos os Dharmas que trazem proveito a quem os pratica e todos os que trazem proveito a outrem. Ainda que eu permanecesse vivo, nada mais teria que fazer. Todas as pessoas que eu devia ensinar já foram ensinadas. Quanto às que eu ainda não ensinei, já criei condições para que elas sejam ensinadas. Se vós, meus discípulos, persistirdes na prática da Lei após minha morte, meu Corpo de Lei continuará eternamente vivo.

Deveis saber que, no mundo, nada existe de permanente, tudo o que se reúne está sujeito à separação. Não vos entristeçais, pois assim é o mundo. Esforçai-vos por obter a libertação. Eliminai as trevas da ignorância com a Luz da Sabedoria. O mundo é algo perigoso e incerto, sem nada de estável. Eu agora alcançarei a extinção como aquele que se livra de uma moléstia maléfica. Vou deitar fora o pior dos males, aquilo que se chama corpo e se encontra mergulhado no oceano da doença, da velhice e da morte. O sábio que destrói isso é semelhante àquele que mata um salteador. Essa destruição deve ser motivo de alegria.

Esforçai-vos sem cessar na prática que leve à libertação. Todas as leis imutáveis e mutáveis deste mundo são isentas de garantia de estabilidade.

Permanecei em silêncio. O tempo passa, e é chegada a hora de eu me extinguir.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A DIFERENÇA ENTRE FORÇA E CORAGEM

É preciso ter força para ser firme,
mas é preciso coragem para ser gentil.

É preciso ter força para se defender,
mas é preciso coragem para baixar a guarda.

É preciso ter força para ganhar uma guerra,
mas é preciso coragem para se render.

É preciso ter força para estar certo,
mas é preciso coragem para ter dúvida.

É preciso ter força para manter-se em forma,
mas é preciso coragem para ficar de pé.

É preciso ter força para sentir a dor de um amigo,
mas é preciso coragem para sentir as próprias dores.

É preciso ter força para esconder os próprios males,
mas é preciso coragem para demonstrá-los.

É preciso ter força para suportar o abuso,
mas é preciso coragem para fazê-lo parar.

É preciso ter força para ficar sozinho,
mas é preciso coragem para pedir apoio.

É preciso ter força para amar,
mas é preciso coragem para ser amado.

É preciso ter força para sobreviver,
mas é preciso coragem para viver.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

FÁCIL E DIFÍCIL

Falar é completamente fácil, quando se têm palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer...

Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros...

Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ela deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas horas e dizer sempre a verdade quando for preciso...

Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer.

Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo lhe deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece...

Fácil é viver sem ter que se preocupar com o amanhã.
Difícil é questionar e tentar melhorar suas atitudes impulsivas e às vezes impetuosas, a cada dia que passa...

Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração...

Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto...

Fácil é brincar como um tolo.
Difícil é ter que ser sério...

Fácil é dizer "oi", ou "como vai ?".
Difícil é dizer "adeus"...

Fácil é abraçar, apertar a mão.
Difícil é sentir a energia que é transmitida...

Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só...

Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência...

Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta...

Fácil é querer ser o que quiser.
Difícil é ter certeza do que realmente és...

Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar (ou vice-versa)...

Fácil é beijar.
Difícil é entregar a alma...

Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém...

Fácil é ferir quem nos ama.
Difícil é tentar curar esta ferida...

Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las...

Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho...

Fácil é exibir sua vitória a todos.
Difícil é assumir a sua derrota com dignidade...

Fácil é admirar uma lua cheia.
Difícil é enxergar sua outra face...

Fácil é viver o presente.
Difícil é se desvencilhar do passado...

Fácil é saber que está rodeado pôr pessoas queridas.
Difícil é saber que está se sentindo só no meio delas...

Fácil é tropeçar em uma pedra.
Difícil é levantar de uma queda, com ferimentos...

Fácil é desfrutar a vida a cada dia.
Difícil é dar o verdadeiro valor a ela...

Fácil é rezar todas as noites.
Difícil é encontrar Deus nas pequenas coisas...

Carlos Drumond de Andrade

sexta-feira, 9 de abril de 2010

SER OU NÃO SER DE NINGUÉM ?... Arnaldo Jabor

Na hora de cantar, todo mundo enche o peito nas boates e gandaias, levanta os braços, sorri e dispara:"... eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também..."No entanto, passado o efeito da manguaça com energético, e dos beijos descompromissados, os adeptos da geração tribalista se dirigem aos consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição.A maioria não quer ser de ninguém, mas quer que alguém seja seu. Beijar na boca é bom? Claro que é! Se manter sem compromisso, viver rodeado de amigos em baladasanimadíssimas é legal? Evidente que sim.Mas por que reclamam depois?Será que os grupos tribalistas se esqueceram da velha lição ensinada no colégio, de que toda ação tem uma reação? Agir como tribalista tem conseqüências, boas e ruins, como tudo na vida. Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua,namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja, é preciso comer o bolo todo e, nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como: não receber o famoso telefonema no dia seguinte, não saberse está namorando mesmo depois de sair um mês com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver beijando outra, etc, etc, etc.Embora já saibam namorar, os tribalistas não namoram."Ficar" também é coisa do passado. A palavra de ordem hoje é "namorix". A pessoa pode ter um, dois e até três namorix ao mesmo tempo. Dificilmente está apaixonada por seus namorix, mas gosta da companhia do outro e de manter a ilusão de que não está sozinho. Nessa nova modalidade de relacionamento, ninguém pode se queixar de nada.Caso uma das partes se ausente durante uma semana, a outra deve fingir que nada aconteceu, afinal, não estão namorando. Aliás, quando foi que se estabeleceu quenamoro é sinônimo de cobrança? A nova geração prega liberdade, mas acaba tendo visões unilaterais. Assim, como só deseja a cereja do bolo tribal, enxerga somente o lado negativo das relações mais sólidas. Desconhece a delícia de assistir a um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçado, roçando os pés sob as cobertas, e a troca de cumplicidade, carinho e amor.Namorar é algo que vai muito além das cobranças. É cuidar do outro e ser cuidado por ele, é telefonar só para dizer boa noite, ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas, transar por amor, ter alguém para fazer e receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter alguém para amar.Já dizia o poeta que amar se aprende amando. Assim, podemos aprender a amar nos relacionando. Trocando experiências, afetos, conflitos e sensações. Não precisamos amar sob os conceitos que nos forampassados. Somos livres para optarmos.E ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém. É ter coragem, ser autênticoe se permitir viver um sentimento... É arriscar, pagar para ver e correr atrás da tão sonhada felicidade. É doar e receber, é estar disponível de alma, para que assurpresas da vida possam aparecer. É compartilhar momentos de alegria e buscar tirar proveito até mesmo das coisas ruins. Ser de todo mundo, não ser de ninguém,é o mesmo que não ter ninguém também... É não ser livre para trocar e crescer... É estar fadado ao fracasso emocional e à tão temida SOLIDÃO... Seres humanos são anjos de uma asa só, para voar têm que se unir ao outro"

sexta-feira, 5 de março de 2010

O Último Discurso

O Último Discurso

Do filme: O Grande Ditador

Texto e filme de Charles Chaplin


Texto do Discurso

Desculpe!
Não é esse o meu ofício.
Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja.
Gostaria de ajudar - se possível -
judeus, o gentio ... negros ... brancos.


Todos nós desejamos ajudar uns aos outros.
Os seres humanos são assim.
Desejamos viver para a felicidade do próximo -
não para o seu infortúnio.
Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros?
Neste mundo há espaço para todos.
A terra, que é boa e rica,
pode prover todas as nossas necessidades.


O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.
A cobiça envenenou a alma do homem ...
levantou no mundo as muralhas do ódio ...
e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios.
Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela.
A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis.
Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que máquinas, precisamos de humanidade.
Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura.
Sem essas duas virtudes,
a vida será de violência e tudo será perdido.


A aviação e o rádio aproximaram-se muito mais. A próxima natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem ... um apelo à fraternidade universal ... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora ... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas ... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes.
Aos que me podem ouvir eu digo: "Não desespereis!" A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia ... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano.
Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo.
E assim, enquanto morrem os homens,
a liberdade nunca perecerá.


Soldados! Não vos entregueis a esses brutais ... que vos desprezam ... que vos escravizam ... que arregimentam as vossas vidas ... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar ... os que não se fazem amar e os inumanos.


Soldados! Não batalheis pela escravidão! lutai pela liberdade!
No décimo sétimo capítulo de São Lucas é escrito que o Reino de Deus está dentro do homem - não de um só homem ou um grupo de homens, mas dos homens todos! Estás em vós!
Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar máquinas.
O poder de criar felicidade!
Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela ...
de fazê-la uma aventura maravilhosa.
Portanto - em nome da democracia - usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo ...
um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho,
que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.


É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós.
Soldados, em nome da democracia, unamo-nos.


Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontres, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo - um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergues os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança.
Ergue os olhos, Hannah!

Ergue os olhos!